Parasha da Semana
Vaerá
Pelo rabino Reuven Tradburks.
A parshá Vaerá é a transição das promessas divinas para a ação divina. Depois da primeira recusa do Faraó no final da parashá da semana passada, De’s assegura a Moshe que vai libertar o povo judeu da escravidão e trazê-lo para a terra de Israel. Depois da relutância de Moshe, Moshe e Aharon são enviados ao Faraó. Ocorrem as primeiras sete pragas: sangue, rãs, piolhos, animais selvagens, peste sobre os animais, sarna, granizo. O Faraó responde em modo «pára, arranca» e começa por vezes por aceitar mas depois muda de ideias.
1ª Aliá (6:2-13): De’s responde firme e definitivamente à aparente futilidade da abordagem de Moshe ao Faraó no final da parashá da semana passada. Sou De’s, um nome desconhecido dos Avot. Prometi-lhes a terra de Israel. Ouvi o clamor do povo. Lembro-me do pacto. Então diz ao povo: «Eu, De’s, vou tirá-los daí, salvá-los, resgatá-los, trazê-los a Mim, trazê-los para a Terra.» O Povo não ouve, devido aos seus fardos. De’s diz a Moshe para ir ao Faraó. Ele argumenta: o povo não me ouviu, como é que o Faraó vai me ouvir?
Nesta aliá, De’s estabelece a mais fundamental das crenças judaicas. Até agora, conhecemos De’s como Criador. E juiz (para aqueles que pecaram – Caim, o dilúvio, Sodoma). Como Aquele que promete a Avraham. Mas as Suas ações na atividade humana foram vistas apenas à distância. A promessa da terra não foi concedida. Até Yosef interpreta a sua vida como De’s querendo salvar o povo judeu da fome – mas essa é a sua suposição, espreitando De’s por trás da atividade humana.
Tudo muda agora. Em vez de termos que procurar, espreitar os bastidores do Divino, Ele diz-nos exatamente o que vai fazer. Agora, pela primeira vez, De’s revela, em grande detalhe, o que está prestes a fazer. E acontece imediatamente. Ele diz a Moshe e ao povo com todos os detalhes exatamente o que vai fazer: tirá-los, salvá-los, resgatá-los, trazê-los até Ele, trazê-los para a Terra.
E nas próprias pragas Ele diz o que vai fazer. E depois fá-lo imediatamente. É por isso que há 10 pragas. Ele quer demonstrar uma e outra vez que Ele está a controlar o mundo e, portanto, também, a História humana.
E o mais importante é que ele não está a castigar. Ele está a trazer o Seu amado, o seu primogénito, até Ele. Disse a Noé que ia castigar o mundo. E fê-lo. Disse a Avraham que castigaria Sodoma e Gomorra. E fê-lo. Mas isto não é castigo. Isto é amor pelo seu povo.
2ª Aliá (6:14-29): É delineada a linhagem de Reuven, Shimon e Levi. Incluindo o nascimento de Moshe e Aharon. Estes são os mesmos Aharon e Moshe que De’s ordenou que fossem ao Faraó. Os que falam com o Faraó.
A linhagem de Moshe parece ser apresentada para realçar que ele não é líder devido à sua linhagem. Não vem do primogénito, Reuven. Nem do primogénito de Levi. Nem mesmo do primogénito de Amram. Moshe não é líder em virtude da sua linhagem.
3ª Aliá (6:30-7:7): De’s diz a Moshe para ir ao Faraó. Moshe objetou: Tenho a língua amarrada, como é que o Faraó vai me ouvir? De’s diz a Moshe: Estou a fazer de ti juiz do Faraó, e de Aharon, o teu porta-voz. Vou endurecer o coração do Faraó. Ele não vai te escutar.
Aqui começa o detalhe do que vai acontecer. Se se tratasse de medidas políticas normais, Moshe sabe que não seria bem-sucedido. Ele, fraco. Faraó, poderoso. Mas é-lhe dito que ele e Faraó são apenas peões nas Mãos de De’s.
4ª Aliá (7:8-8:6): Começam as pragas. Vai ao Faraó de manhã quando ele for ao rio. Nisto saberás que Eu sou De’s. A água transformar-se-á em sangue. Moshe avisa o Faraó. Aharon bate na água; esta transforma-se em sangue. Os feiticeiros também o fazem. O Faraó não escuta. 2ª praga: vai ao Faraó e diz-lhe que De’s diz para deixar o povo ir servi-Lo. Se não, as rãs invadirão a tua casa, cama, fornos, as casas dos escravos. Aharon levanta a sua vara e as rãs invadem tudo. O Faraó chama Moshe e pede que ele reze para aquilo parar.
As primeiras 2 pragas, o sangue e as rãs, vêm da água. A água faz-nos imediatamente pensar na Criação: o Espírito de De’s pairava sobre as águas. A água é o começo: em Bereshit, é o começo do mundo. Aqui, é o início do povo judeu.
E as pragas começarão pequenas e depois aumentarão. O que é inferior ao nível do solo? A água, que se reúne em terrenos mais baixos. As primeiras 2 pragas são da água. A 4 e a 5, os animais selvagens e a peste sobre os animais, acontecem em terra. E a 7, a 8 e a 9, o granizo, os gafanhotos, e a escuridão, são do céu.
5ª Aliá (8:7-8:18): Moshe reza, as rãs param, o Faraó falta à sua palavra. 3ª peste: Aharon ergue a sua vara; homens e animais são atacados por piolhos. Os feiticeiros tentam imitá-los, sem sucesso; é a mão de De’s. O Faraó não escuta. A 4ª peste: Vai ao Faraó de manhã quando ele for ao rio. Diz-lhe: Haverá animais selvagens no Egito, mas não em Goshen. Nisto saberás que Eu sou De’s no meio da terra.
Seja quem for que decidiu onde termina uma aliá e começa outra terá comentado sobre essa escolha. Na nossa parashá faria sentido que as aliás terminassem bem e claramente, no fim de uma praga – no fim do parágrafo. Mas tanto esta aliá como a próxima terminam da mesma forma: «Para que saibam que sou De’s.»
A 1ª, 4ª e 7ª pragas começam com Moshe encontrando o Faraó na água pela manhã. E cada uma repete a mesma frase: «Para que saibas…» O dia 1 é para que saibas que sou De’s. O 4º, para que saibas que sou De’s no meio da terra. E o dia 7, para que saibas que não há nenhum como Eu.
Estes são os 3 pilares da crença judaica. Há um De’s. Ele é o nosso De’s, ou seja, está envolvido no mundo. E Ele é Um.
6ª Aliá (8:19-9:16): Ocorre a praga dos animais selvagens. O Faraó concorda em permitir que o povo saia para celebrar no deserto. Moshe reza pelo fim da peste. O Faraó muda de ideias. A 5ª praga: Vai ao Faraó, os animais serão atingidos por uma doença, mas os do povo judeu não. O Faraó verificou, viu que era verdade. Mas endureceu-se-lhe o coração. A 6ª praga: Moshe, joga pó no céu em frente ao Faraó. Tornou-se sarna de úlceras e bolhas nos animais e nas pessoas. De’s endureceu o coração de Faraó. 7ª peste: Moshe, vai ao Faraó de manhã. Com esta praga saberás que não há nenhum como Eu.
Pragas 4 e 5, os animais selvagens e a peste sobre os animais atacam apenas os egípcios, não em Goshen. Isto é para ensinar que De’s está envolvido na atividade do homem, distinguindo entre o mal e o bem.
Transformar a água em sangue foi um ataque ao deus egípcio; com isto sabes que sou De’s. Aqui o ataque ao Egito é só para ensinar: eu sou De’s, trabalhando no meio da terra. E as últimas pragas vêm do céu – Ele controla o céu, os poderes, o cosmos. Nada além dEle.
7ª Aliá (9:17-35): Vai chover granizo e matar tudo no seu caminho. Moshe levantou a sua vara e choveu granizo no meio de trovoada, com fogo. O Faraó chamou Moshe e Aharon: Pequei; De’s é justo. Reza para isto ser removido e eu deixo-vos ir. Moshe assim o fez. O Faraó recusou-se a deixar o povo sair.
Enquanto que as pragas têm uma ordem muito clara, as reações do Faraó não. Primeiro fica calmo, permitindo-lhes sair para celebrar. Depois muda de ideias. Aqui, ele concorda que pecou. Esta é uma aceitação impressionante de responsabilidade. Chamá-la-íamos de teshuva. É contrita. Mas depois muda de ideias.
Esta demonstração do envolvimento de De’s no mundo é sem precedentes, mas o homem continua a ser teimoso.
A Parashá acaba depois de 7 pragas. As últimas três serão na Parashá da próxima semana. O drama do Êxodo do Egito abrange 3 parshiot: Vaera, Bo e Beshalach.
Esta história é a história mais notável da vida judaica. Menção diária nas nossas orações. No Shema. No Birkat Hamazon. Mencionada no Kiddush. E no Seder. Porque representa uma inovação radical na crença religiosa. De’s como Criador é uma crença central. De’s como juiz, que recompensa e pune, é uma crença fundamental. Mas a noção de que De’s intervém no mundo, na formação da História humana, em trazer o povo judeu para Ele, para nos levar à terra de Israel – o De’s da História, é apresentado aqui. No nosso tempo somos mimados, porque vemos o De’s da História no nosso regresso à terra de Israel. Para nós é evidente. Vemo-lo com os nossos próprios olhos. O De’s da História é-nos apresentado aqui na nossa Parashá.
Rav Reuven Tradburks é o Diretor do Machon Milton, o curso de preparação para a conversão em inglês, uma parceria do Rabbinical Council of America (RCA) e da Shavei Israel. Rav Tradburks também é Diretor Regional para Israel da RCA. Antes da sua aliá, Rav Tradburks trabalhou durante 10 anos como Diretor do Tribunal de Conversão do Vaad Harabonim de Toronto, e foi rabino comunitário em Toronto e nos Estados Unidos.